ACIDENTE
hematófagos no chão
a bala, o momento, o perdão
a multidão correndo séculos
esses ventos sopram todo o mal
eu não quero ser o tiro em vão
eu não vou te dar a minha mão
os meus olhos não aguentam mais
só dez passos sem olhar pra trás
vai haver um acidente
ANIVERSÁRIO
flor,
você cresceu, flor
você mudou tudo
e hoje é o meu aniversário
e hoje eu não aniversariei
como a vida está errada
cabe a nós desvencilhar
flor,
me dê um jeito, flor
esses seus olhos podem me ajudar
eu ainda trago em mim todos vícios
eu esqueço de esperar os que me esperam
mas ainda guardo um resto bom pro meu amor
tão velho e tão estúpido
vocês têm que perdoar
tão novo e tão estúpido
devo eu me perdoar?
flor,
me dê notícias, flor
diga que daqui a um ano eu vou estar melhor
eu gostei tanto de te ver assim maior
SEGUNDO PLANO
conclusão: quem tem razão?
pra ser um filho, um pai, um par
basta querer
esquecer
a câmera parada
um casal desaba
filha mata os pais
simples como a paz
cena emoldurada
tranfusão de alma
o jogo acabou
acabou
esperar, melhor será?
é o passo que outra vez falhou
o eterno já
não vai passar
a discussão errada
sonho, cor e trauma
cinzas e um sinal
pra ressuscitar
o mal que já cessou
uma ideia rara
transfusão de alma
implosão da aura
e eu nem sei sua história
VIDRO
vai ferir
transparecer
unificar
só eu me vi refletido
eu nunca soube fugir do perigo
o resto dos vampiros comemorou
me deram à luz
viram nela um problema
um lema
um mundo cortante
errante
eu fui me achar
num holograma
quebrar o tempo
fazer de ti
pra sempre
eu
NOTURNOS
se eu quisesse derrubar
essas paredes
você moraria no meio de uma praça
comigo?
na praça dos loucos
dormir é se afastar do sonho
se eu conseguisse
me transformar
pêlos brancos, olhos amarelos
ouvidos atentos
pra sempre cair de pé
e sete vezes poder escolher
todos os finais
dignos de nós
e quando eu conseguir
me transformar
num noturno, unhas afiadas
pleno equilíbrio
e sete vezes poder escolher
todos os finais
dignos de nós
AS CURVAS
me faz fazer questão
de ser ainda bom
pra onde eu devo ir?
de onde eu vou gostar?
de quem eu vou gostar?
os filmes vão lembrar
que apesar das curvas
ainda estamos sós
nós,
não sei por que,
ficamos sós
TERMINAL
não costuma começar assim
vento imaginário sopra em mim
não costumo imaginar assim
tão forte a luz do raio que caiu
caleidoscópio, escorpião, delírio
o bem
só consigo explicar assim
sem falar
lembra que o herói morre no fim
deixando a força do maior silêncio aqui
eu acho que chegou a hora de partir
quis me desculpar
nunca coube duvidar do amanhã
tudo que era meu
dava por um último minuto
aquele abraço fica pra outra vida
ENGASGO
guardo a cor
disfarço a face
bemol o tom
maior disfarce
revogar
o que eu sou
e descartar
o que restou
não vá mudar
nem renascer
quem vai ficar?
quem vai dizer?
distorço o som sem perceber
instigo o riso que não vem
me oponho ao insulto que ganhei
engasgo o ar que eu respirei
DOIS BALÕES
dois balões
bilhantes
no céu
distantes vão
furando o ar
fogem da dor
do corpo errado
procurando alguém
desacordado
também